Entrevista a José Fernandes

Fisioterapeuta a trabalhar na clínica Ortomed, em Santarém

Objectivos

• Obter uma opinião acerca dos hábitos de vida/desportivos da população portuguesa por parte de um profissional de certa forma relacionado com os problemas adjacentes aos descontrolos destas áreas;
  
• Obter informações acerca da forma de prevenir as lesões na prática desportiva;
  
• Encontrar respostas para alguns problemas da sociedade relacionados com o sedentarismo e obesidade;
  
• Reforçar as noções básicas de anatomia, relacionadas com lesões desportivas.
  

Entrevista

Em primeiro lugar gostaríamos de agradecer a sua presença aqui, a qual é para nós bastante importante. Compreendemos que será alguém com muito pouco tempo e a sua disponibilidade é, para nós, muito gratificante.

Ora essa!

Comecemos então pela sua opinião acerca dos hábitos de vida actuais. Concorda com a caracterização da nossa sociedade com sedentarista?

Sim, sem dúvida. E isso será o reflexo do quotidiano das pessoas. Hoje em dia as actividades profissionais roubam muito do tempo das pessoas e acabam por não ter tempo para praticar desporto. Mas é a forma que elas têm de ganhar a vida e nesse aspecto não são culpadas. Hoje em dia, se notarem, há muitos mais problemas de obesidade infantil e doenças cardiovasculares, por exemplo.

E como resposta a essa problema, o que sugere?

Essencialmente, a prática de desporto e o cuidado com os hábitos alimentares, que são muito importantes. No caso dos jovens há um contra: a existência das “Playstations” e da Internet, por exemplo, acabam por retirar aos jovens muito do pouco tempo que têm, e que deveria ser destinado para a prática desportiva. O problema é que hoje em dia eles prendem-se a estas coisas e “viciam-se”, não tendo noção do tempo que lá passam. No tempo em que eu era mais novo, como não havia nada disso, éramos mais saudáveis, talvez porque praticássemos bem mais desporto.

Apelando à sua experiência enquanto fisioterapeuta, tem notado alguma diferença na velocidade de recuperação entre pessoas sedentárias e activas?

Sim. Aqui na clínica temos um exemplo de um senhor de 90 anos que praticou atletismo e tem uma resistência fora do normal, resultado das capacidades adquiridas no passado. É um bom exemplo de como quem pratica desporto adquire capacidades extra e uma melhor preparação para enfrentar os acidentes do dia-a-dia, sendo mesmo menor a probabilidade de contrair certas doenças. Os problemas do desporto são, geralmente, traumáticos pelo que a nível endócrino ficamos mais protegidos. Por natureza, são criadas defesas e as pessoas possuem mais capacidade de reacção aos estímulos. Ficam muscularmente mais fortes, mais rápidas e adquirem excelentes capacidades cardíacas, mantendo-se em total equilíbrio. Nota-se que hoje em dia cada vez mais pessoas praticam desporto por lazer, o que antigamente não acontecia nas faixas etárias mais avançadas. Hoje em dia há mais apelo, mais publicidade e infra-estruturas de melhor qualidade.

O desporto, embora positivo, quando é praticado desregradamente pode originar desequilíbrios no organismo e até lesões. Já tem tido casos de utentes lesionados em práticas desportivas? Qual acha que é a melhor atitude para prevenir estas situações?

Há muitos casos de lesões, como entorses, luxações e rupturas que acontecem a qualquer atleta. No entanto também há outras lesões relacionadas com o desrespeito pelos princípios básicos da prática desportiva que originam, a pouco e pouco, problemas como escolioses, cifoses e hérnias discais. O desporto pode originar, inclusive, problemas cardíacos, se for praticado sem o acompanhamento necessário. Modalidades como atletismo, ténis e ciclismo podem ser prejudiciais porque as pessoas, iludidas pela vontade de ir mais longe, querem treinar acima da sua frequência cardíaca apropriada. Deve ser estabelecido um plano de treino e o atleta deve segui-lo à risca para que este seja bem aproveitado deixando de parte problemas como aumento do ácido láctico no corpo e a fadiga muscular. Por exemplo há uns anos, quando eu andava no futebol, os treinos eram demasiado dirigidos para a componente da força e nunca para a vertente dos alongamentos e treino da flexibilidade, o que originava lesões musculares frequentes. Na altura sofríamos muito, até porque a qualidade da alimentação não era a melhor.

Já percebemos que praticou desporto. Como foi essa experiência?

Pratiquei como amador e federado as modalidades de atletismo e futebol. A experiência foi excelente, é de facto óptimo. As pessoas não têm a noção de como a diferença entre os treinos e as competições é enorme… só lá se chega com muito esforço, e até com muita preparação psicológica. Aconselho todos a praticar, desde que sejam vigiados e se sintam preparados e motivados para isso.

Enquanto cidadão preocupado com o seu bem-estar, a alimentação é para si algo a ter em conta nas nossas escolhas?

Sim, sem dúvida. Tento chamar a atenção, aqui na clínica, alertando para o risco de contrair patologias relacionadas com a obesidade: AVC (s), artroses, etc. O excesso de peso origina uma grande carga sobre os joelhos e ancas e há muito mais probabilidade de haver problemas. A alimentação é sem dúvida muito importante.

E acha que os outros cidadãos também têm essa noção do problema?

Cada vez mais estão elucidados para esse problema e isso vê-se com o aumento da prática de desporto. Hoje em dia até recorrem a nutricionistas, algo que, no meu tempo, não acontecia.

Com o aumento do poder económico das famílias portuguesas nas últimas décadas, a alimentação é mais farta. No entanto, estudos revelam que as pessoas comem pior que dantes. O que achas desta situação?

É verdade. Muito atraídas pela publicidade, e aproveitando a desculpa da falta de tempo para cozinhar, dada a intensa vida profissional, recorre-se muito ao “fast food” e as refeições em família tendem a ser coisa do passado. As pessoas chegam do trabalho, saturadas e cansadas, optando por refeições mais rápidas. Somos vítimas da nossa sociedade.

Muitas pessoas procuram os suplementos nutricionais como forma de emagrecer e/ou alterar a estrutura corporal. Há duas semanas registou-se o célebre caso da depuralina, substância aparentemente maléfica para o organismo que é incluída em vários suplementos de dieta. Na sua opinião é correcto usar suplementos ou nada substitui uma alimentação equilibrada?

Nada substitui a alimentação mas, em fases críticas, os suplementos são uma boa ajuda. No entanto, nenhum deles trabalha sozinho. É necessário o esforço de cada um (cuidado com o que se come e com as actividades que efectuamos). Uma boa alimentação e a prática de desporto são, de facto, a melhor forma de controlar a nossa saúde. Não suplementos nem massagens nem medicamentos milagrosos. Seguindo as regras, tudo se tornará mais fácil.

E terminámos! Esperamos não tomado muito do seu tempo e muito obrigado pela ajuda.

Conclusões

• O entrevistado considera os hábitos de vida actuais, sobretudo os dos jovens, inapropriados para o desenvolvimento de uma boa qualidade de vida;
  
• O entrevistado aponta a nossa sociedade e as novas tecnologias como causadores de desinteresse pelo bem-estar físico;
  
• O entrevistado defende que a prática regular de desporto contribui para a recuperação mais rápida de lesões e outros tipos de problemas;
  
• O entrevistado reconhece que a prática de desporto sem acompanhamento pode aumentar o número de lesões desportivas, prejudicando o bem-estar do indivíduo;
  
• O entrevistado considera a prática de desporto uma experiência muito agradável, com inúmeras potencialidades sociais e humanas;
  
• O entrevistado revela-se preocupado com alimentação e exprime a necessidade de aliar uma boa alimentação à prática de exercício físico;
  
• O entrevistado lamenta o consumo exagerado de “fast food” pela sociedade actual e recomenda as refeições em família;
  
• O entrevistado exprime a ideia de que não são necessários suplementos par manter a nossa estrutura corporal estável, embora estes possam ajudar.

Entrevista a Leandro Silva

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