sexta-feira, 16 de maio de 2008

Entrevista a Dra. Susana Guilherme

Nutricionista

Objectivos

  • Compreender de que forma a prática desportiva conduz a uma vida mais saudável;
  • Recolher informações acerca das dietas desportivas e analisar o seu interesse para os desportistas nacionais;
  • Perceber de que forma o problema do fast food, aliado a uma alimentação não cuidada pode conduzir a danos;
  • Ter opinião de um profissional acerca do problema da obesidade infantil;
  • Investigar acerca da correcção ou não do uso de suplementos nutricionais.

Entrevista

      
      Em primeiro lugar muito boa tarde. Queremos desde já agradecer a sua presença aqui, facto que é, para nós, bastante importante. Comecemos então a entrevista.
      O que acha da prática de desporto, como complemento de uma vida saudável?

      A minha opinião é que a actividade física em geral, seja ela espontânea - como andar a pé em vez de usar transportes, dançar por diversão, etc .- ou mais regrada é essencial para mantermos uma boa saúde. No caso das crianças e jovens é naturalmente inquestionável que tenham actividades estruturadas até porque as escolas felizmente o permitem. Os adultos deverão procurar a melhor solução para si, seja ela a simples caminhada diária ou o treino de ginásio.
      As minhas recomendações, enquanto nutricionista, passam muitas vezes pelo incentivo ao exercício, até porque em determinadas casos como a perda de peso é essencial para se obterem bons resultados.


      Pensa que os praticantes de desporto do nosso país têm cuidado com a sua alimentação?

      Espero que sim... É complicado fazer esse tipo de julgamentos sem ter dados ou factos devidamente descritos em que nos possamos basear. Mas acredito que pessoas que praticam desporto com fins principais de saúde e bem-estar, estejam à partida mais motivadas para práticas saudáveis em geral, entre elas, a de uma alimentação equilibrada.
      No caso dos Desportistas de alta competição, como por exemplo os jogadores de futebol, existem já clubes, (sei que o FCP tem...) que veiculam aconselhamento alimentar aos seus atletas, não só para prevenir eventuais carências nutricionais, como pela própria optimização do rendimento desportivo.


      Basicamente que alterações deve sofrer a dieta de um desportista, em relação ao cidadão comum?

      Isso, mais uma vez depende da intensidade desportiva de que estamos a tratar e naturalmente depende também de indivíduo para indivíduo.
      No entanto, e de forma muito genérica:
      Tal como um “não-desportista” deverá ter uma alimentação adaptada às suas necessidades e gastos nutricionais e energéticos. Um individuo em situação de prática intensa e frequente de actividade física terá as suas necessidades energéticas aumentadas comparativamente a uma do que se não fizesse qualquer desporto e portanto, a menos que o objectivo seja perder peso deverá aumentar de forma equilibrada a sua ingestão alimentar.
      A população em geral deverá ter o cuidado de hidratar-se devidamente, bebendo água frequentemente, os desportistas deverão estar especialmente atentos a este factor.
      As necessidades de proteínas (nutrientes presentes no peixe, carne, leite, ovos, leguminosas) em desportistas, especialmente nos jovens que ainda estão em crescimento, são mais elevadas - do que num adulto não desportista, por exemplo - no entanto, regra geral, o nosso padrão alimentar tradicional assegura esse aporte proteico, salvo algumas excepções – como poderá acontecer em regime alimentares estritamente vegetarianos.
      Existem também alguns minerais especialmente importantes no exercício como o potássio, o magnésio, que estão em boas quantidades nos vegetais e na fruta que deverão ser consumidos em abundância por toda as pessoas.
      Em jeito de conclusão:
      A bem da saúde, todas as pessoas, desportistas, ou não, deverão ter uma alimentação saudável e equilibrada.
      Pessoas com prática desportiva muito intensa, caso sintam necessidade ou sejam aconselhados pelo seu médico, poderão ter francos benefícios em receber aconselhamento alimentar individualizado e especializado.

      O que pensa das práticas sedentárias dos portugueses? Aliadas a uma alimentação incorrecta podem trazer sérios problemas?

      Tal como já referi, tudo o que implique “mexer”, seja de forma espontânea ou programada é importante para a manutenção ou mesmo melhoria da saúde. Ser sedentário e ter uma alimentação pouco saudável são dois factores a concorrer para diminuir o padrão global de saúde, nomeadamente com o aumento do risco de várias patologias, como Obesidade, Hipercolesterolemia, Diabetes tipo 2, alguns tipos de cancro, Hipertensão... Enfim, doenças decorrentes de estilos de vida pouco amigos da saúde.


      O que pensa do consumo de “fast-food”?

      É uma solução que a industria alimentar encontrou para as vidas agitadas de hoje.
O consumo de fast-food não é necessariamente mau, existem soluções saudáveis nas “comidas rápidas”. Hoje em dia, no fast-food já é possível fazer uma refeição de sopa de legumes, pão integral recheado com uma salada e uma carne magra (como frango, por exemplo), acompanhar com água e terminar com uma peça de fruta. Tudo isto é muito saudável e constitui uma refeição equilibrada, basta que não juntemos molhos com muita gordura, nem refrigerantes, nem fritos ou salgadinhos...
      Já existem boas escolhas, no entanto, cabe-nos ser críticos e exigentes em relação à oferta que nos é feita, até porque assim damos um bom contributo para que as opções sejam cada vez melhores.


      Obesidade infantil é um problema cada vez mais comum. Como educar uma criança a ter uma alimentação saudável?

      Sim...é verdade! As nossas crianças estão mais pesadas e de facto não tem só a ver com o que comem, mas também com o que não gastam (em exercício, brincadeiras que exijam movimento, etc...).
      Bom, em primeiro lugar é preciso dar o exemplo, em casa e na escola a alimentação deverá ser saudável e equilibrada para que isso se torne um hábito, as excepções de consumo de alimentos com mais gordura e açúcar deverão ser entendidas como tal, saboreadas é certo mas menos vezes. Por outro lado, muitas crianças e até jovens têm muita relutância em consumir alimentos considerados saudáveis: sopa, vegetais, peixe, leite... Desde sempre as crianças deverão ser ensinadas, se for o caso com muita insistência dos pais, a aprender a gostar destes alimentos, desistir de os dar nunca é a melhor solução. O paladar também se educa...!
      No que respeita à actividade física é importante incentivar brincadeiras que exijam movimento, sem dúvida alguma ter actividades desportivas estipuladas na semana das crianças e jovens - se os pais puderem acompanhar nas actividades ou brincadeiras melhor ainda. E, por último, na minha opinião, é também importante limitar o número de horas passadas em frente à TV e ao computador.

      Muitas pessoas recorrem ao uso de suplementos nutricionais concorda com o seu uso?

      Não concordo com o uso indiscriminado resultante de auto-prescrição sem nenhum tipo de análise clínica. Se for um suplemento que tenha sido aconselhado por nutricionista ou médico no sentido de prevenir ou colmatar alguma carência, naturalmente que sim, concordo.
      
      Penso que acabámos. Cabe-nos agradecer, mais uma vez pelo seu contributo.
      
      De nada.


Conclusões

  • O entrevistado reconhece os benefícios da actividade física não só entre jovens mas também entre adultos;
  • O entrevistado exprime o desejo de ver os praticantes desportivos do nosso país preocupados com as suas práticas alimentares e admite que, em grande parte dos casos, isso já começa a acontecer;
  • O entrevistado revela a necessidade da preocupação alimentar por parte das pessoas e acha uma mais avalia a existência de um acompanhamento profissional no caso dos atletas de alta competição;
  • O entrevistado lembra que quando se pratica um desporto, o aumento das necessidades energéticas conduz ao aumento das necessidades de Hidratos de Carbono, Proteínas e Gorduras, bem como de Água e Sais Minerais. Assim, de forma equilibrada e saudável, devem-se aumentar a ingestão dos mesmos;
  • O entrevisto reconhece o melhoramento do fast food nos últimos anos. Considera que já existem refeições equilibradas à disposição nestes estabelecimentos;
  • O entrevistado considera o incentivo para a actividade física fundamental nas crianças, para a resolução do problema da obesidade infantil;
  • O entrevistado aconselha as crianças e ingerirem alimentos tais como sopa, vegetais, peixe e lacticínios, tantas vezes esquecidos/postos de parte nas escolhas alimentares dos mais jovens;
  • O entrevistado concorda com o uso de suplementos nutricionais, mas só no caso de estes serem receitados por alguém especializado.


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